segunda-feira, 9 de julho de 2012

Ramon: ‘Tirei mochila de peso das costas’



Anderson Silva manteve o cinturão dos pesos médios ao derrotar Chael Sonnen, no sábado, pelo UFC 148. E um dos responsáveis pela atuação do brasileiro foi Ramon Lemos, responsável por apurar o Jiu-Jitsu do brasileiro. O treinador, que ficou no córner de “Spider” vibrou com o resultado, obtido no segundo round.

Em entrevista à TATAME, Ramon disse, após o combate, ter tirado “uma mochila de peso das costas” e comparou Anderson a grandes craques do futebol.

“O Anderson tem um dom que, se for treinado e aperfeiçoado, não dá para ter outro resultado. É muito difícil achar uma pessoa igual ao Anderson Silva. Acho que, se no futebol existiu um Pelé, um Ronaldinho, um Romário, no MMA, sem dúvida nenhuma, o Anderson marcou história, vai ser muito difícil existir outro igual”.

Confira a entrevista completa abaixo:

Como estava a cabeça do Anderson?

De forma alguma o Anderson levou isso para o pessoal. A gente tinha uma meta. Se botarmos raiva na situação, paramos de pensar e não realizamos o que a gente traçou como meta. Todos os dias, os 90 dias, ficamos juntos, e ele já tinha falado isso: “vai ser nocauteado”. A verdade é que o Anderson tem um dom que Deus deu que, se for treinado e aperfeiçoado, não dá para ter outro resultado. É muito difícil achar uma pessoa igual ao Anderson Silva. Acho que, se no futebol existiu um Pelé, um Ronaldinho, um Romário, no MMA, sem dúvida nenhuma, o Anderson marcou história, vai ser muito difícil existir outro igual.

No primeiro round, o Sonnen veio para cima muito rápido. Houve certa preocupação?

Tinha falado isso antes: o Chael Sonnen é previsível. Em pé, a gente tinha certeza que não dava, de forma alguma, para o Sonnen. A gente sabia que ele ia jogar naquela: caminhar, com a guarda bem alta. Ele faz a guarda com cotovelo alto e ia sufocar para entrar na queda. Se eu não me engano, o Anderson deu um passo errado na hora da queda. Era para tirar a perna direita, ele tirou a esquerda e a cabeça do cara ficou paro lado. A gente não esperava tomar uma queda, mas, se fosse para o chão, a gente estava preparado. Treinamos muito, inclusive treinamos de quimono. Neutralizamos o Jiu-Jitsu dele, fiquei passando as informações para o Anderson manter o braço esgrimado, sair o quadril, não deixar a perna solta. No segundo round, o Feijão e eu passamos informações para o Anderson soltar mais os braços. Eu falo que é o momento brilhante da luta, que o cara dá um rodado, o Anderson sai e ele cai sentado. O Anderson, frio, vai para em cima e entra com o joelho. Chael Sonnen, por ser um wrestler, esgrimou o braço, ficou em pé e achou a distância para se afastar. Acho que ele cansou com a pancada que tomou embaixo. Tirei a mochila de peso que estava nas minhas costas. Estou muito feliz.

Você era o treinador do Anderson no primeiro confronto. O que prova essa vitória?

Foi como eu falei em uma filmagem para o UFC: ele não lutou com o Anderson Silva. Ele não lutou. O Anderson precisava ficar nos Estados Unidos por causa do greencard dele, a equipe dele não estava junto com ele, não veio ninguém. Acho que veio um terço da equipe. Ele não fez preparação física com o Rogério Camões, e eu sou fã do trabalho dele. Não senti o Anderson forte o suficiente para lutar. Para piorar, faltando três semanas, fissurou uma costela. Não conseguia socar, defender queda e fazer chão. Trabalhamos muito Jiu-Jitsu e deu certo. O cara tem uma estrela monstra. O Anderson estava pronto dessa vez, 100%. Quando ele está 100%, o resultado não pode ser outro.

As declarações do Anderson foram marketing?

Não tinha combinado nada, o Anderson sempre faz umas surpresas para a gente. Foi uma surpresa até para nós. O que eu posso dizer é que, nesse churrasco, eu vou colocar pimenta (risos).

Que lição vocês tiram do Sonnen ter aceito o convite para o churrasco? Prova que é só marketing?

Se ele ganha, ele ia manter o mesmo personagem. Não ia mudar isso. Ia achar só um outro adversário para continuar com isso. O perigo de um atleta ser assim é o seguinte: se o cara usa uma droga e esta para de fazer efeito, ele precisa de uma dose maior. Vamos imaginar que, o que ele fala, seja uma droga e que todo mundo vá se acostumar com essa dose. Quando todo mundo se acostumar com essa dose, ele vai ser pior. E aí? Vai falar o quê? Vai ter qual atitude? Você cria um mundo que, se esse mundo cair, você vai ter que mudar o discurso, ter que se mostrar bonzinho e, no mundo da luta, você passa como um mentiroso, um palhaço. Vira uma coisa meio que telecatch. Acho que os lutadores têm que ser respeitados. Têm que ter aquela coisa de querer lutar com o cara, querer vencer, mas é isso.

O Anderson estava preparado psicologicamente para uma derrota?

Quem é atleta, ganha ou perde. Não tem jeito. O Anderson é um campeão, nunca perdeu no UFC, é o melhor do mundo hoje, mas sabe o que é perder. O atleta que não sabe perder, precisa mudar de esporte, mudar de profissão porque faz parte. Agora, eu não treino pra ser segundo. Eu sou treinador e treino para ser campeão. Os meus atletas no Jiu-Jitsu, quando falam que vão fechar a categoria e tal, eu sempre falo: “lutem. Eu não treino ninguém para ser segundo”.

Quem pode ser o próximo oponente? Há chance de o Anderson trocar de categoria?

Não. Eu acho que o Anderson não vai subir de categoria. A categoria 84kg é onde ele se sente bem e tem a melhor performance. Falando como treinador, se o Anderson sobe de categoria, muda muita coisa: a forma de lutar, de se mover e de treinar. É difícil a gente fazer essa experiência. O Anderson tem uma experiência de muito tempo dentro do MMA e a gente não precisa fazer mais laboratório. A gente sabe o que dá certo e o que não dá certo. O que dá certo é lutar na categoria dos médios.

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